Natal em clave de Sol
Do. É o dom de voltar a
começar cada dia, cada ano. Mas não como um destino do tempo, sucessivo que é
mais do mesmo. Não. Um dom que é novo como a “Nova Evangelização”. Um dom que é
uma oportunidade para aprender a esperança. O Natal significa que mesmo a crise
não deve levar a posturas de passividade e de fatalismo. É o tempo para
descobrirmos uma melodia nova até darmos com o tom adequado.
Re. Recordar e percorrer
o caminho até Belém é tarefa de cada Natal. Recordar o futuro que já está
oculto no passado. As mil e uma possibilidades latentes que esperam o tempo
oportuno para se tornarem realidade.
Recordamos que vivemos
sob o tempo de Deus e que Deus é fiel à sua promessa de levar o mundo à sua
plena realização. E esta convicção alimenta a nossa esperança. O futuro não é
uma ameaça; é uma meta que ressoa já no itinerário da vida: «O povo que andava nas trevas viu uma grande
luz» (Is 9,2).
Mi. Missão. É Mirar.
Apontar o nosso olhar até percebermos o milagre. Há muitas maneiras de olhar.
Podemos fixar-nos nas recordações, na nostalgia e na saudade… Mas também
podemos fixar-nos nas pessoas que estão cheias de sonhos; vermos processos de
nascimento e de crescimento; vermos a vida escondida que começa a revelar-se. O
Natal é o tempo de termos os olhos bem abertos porque «Nesse dia, os surdos ouvirão as palavras do livro, e, livres da
obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão. Os oprimidos voltarão a
alegrar-se no Senhor, e os pobres exultarão no Santo de Israel» (Is 29,
18-19).
Fa. Fascinação diante do
Menino deitado numa manjedoura. Fascinação que nasce desse encontro com o
Evangelho, encontro feito fascínio e espanto com o mistério da pessoa e da obra
de Jesus Cristo que, mesmo sobre a Cruz, manifesta plenamente a beleza e a
força do amor de Deus.
Fascinação que leva à
alegria de saber que Deus tem a última palavra. Que Deus revela a sua justiça e
a sua glória, mas que só o olhar cristalino do coração consegue maravilhar-se
diante do Menino que nasceu para nós.
Sol. O Sol que nasce das alturas e
que se transforma em solidariedade é o outro nome do Natal. Especialmente em
tempos de crise. Sabemos que o futuro está nas mãos de Deus. Que o seu tempo e
a sua fidelidade não estão esgotados. Vivemos sob a sua palavra criadora e
ressuscitadora. A Palavra fez-se carne e
habitou entre nós, diz S. João. Esta palavra recria a existência e
chama-nos a descobrir novos horizontes; estimula-nos a amar. Sabemos que o amor
é o que faz viver e que dá vigor à vida. É o amor que nos faz cantar juntamente
com os anjos: «Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens» (Lc 2, 14).
La. Não de lamúrias mas
de labaredas de alegria: «Assim que o
viram começaram a contar o que lhes tinha sido anunciado sobre aquele Menino. E
todos os que ouviram se admiravam com aquilo que os pastores lhes disseram»
(Lc 2, 17-18).No Natal reconhecemos a mais-valia do amor sobre a nossa história
e descobrimos que é a alma mais íntima de toda a realidade, a sua respiração e
o seu alento vital. É o amor que nos faz
entusiasmar pela profundidade e pela beleza da nossa fé. É ele que nos
impulsiona a transmiti-la aos vizinhos, aos filhos, aos netos, às gerações
futuras.
Si. Sim. É a grande
palavra do Natal. É a nota musical que reúne todos os “sins” da nossa história e da história bíblica. Em primeiro lugar o
sim de Deus ao criar o mundo e o homem: o sim de Deus a iniciar uma história de
amor com a humanidade inteira. O sim de Israel a formar parte especial da
história da salvação, o sim à sua vocação como povo comprometido com a aliança
e com a sua missão de alargar a história do amor de Deus ao mundo inteiro,
fazendo-a convergir no Messias Jesus. O sim de Maria como sinal condensado da
resposta dos seres humanos aos surpreendentes planos libertadores do nosso
Deus. O sim da Igreja em continuar a missão que recebeu de Jesus: Evangelizar.
Evangelizar será a nossa maneira de ser, porque é a nossa identidade mais
profunda, graça e vocação recebidas, vividas, correspondidas abrindo caminho a
todos os homens para Cristo.
Do. Dom da Fé. Neste Ano
da Fé, é importante compreender que «a Fé em Deus, neste desígnio de amor
realizado em Jesus Cristo, é antes de tudo um dom e um mistério a receber no
coração e na vida e pelo qual devemos agradecer sempre ao Senhor. A Fé é um dom
que nos é dado para ser partilhado; é um talento recebido para que produza
frutos; é uma luz que não deve ficar escondida, mas iluminar toda a casa» diz o
papa Bento XVI. A fé não se refere a coisas, a teorias, a ideologias, refere-se
a uma pessoa: o Menino que é a Luz do mundo, o Sol que ilumina tudo e todos. «Tudo
se define a partir de Cristo».
Solfejai estas notas e
que este Natal leve cada um a seu modo a cantar melodias de Amor e de Paz.
Texto: P. António Lopes, SVD
Foto: OMP